O que é amnésia global transitória?

Muito provavelmente você conhece ou já ouviu falar de alguém que vivenciou este curioso e assustador episódio: uma perda repentina da memória recente, com incapacidade de fixar novas informações. O indivíduo sabe quem é, reconhece seus amigos e familiares, pode contar detalhes da sua infância, mas não consegue dizer o que ocorreu minutos atrás, o que está fazendo naquele lugar. Passa a repetir várias vezes a mesma pergunta e parece não fixar a resposta. Na maioria das vezes, os sintomas fazem com que a pessoa seja levada imediatamente ao pronto-socorro ou a um médico de confiança.

As primeiras horas costumam ser de tensão e agonia, principalmente para os familiares, mas, conforme as horas vão passando, gradualmente a memória retorna, e junto com ela o alívio daqueles que sofriam junto com o paciente. Quem esteve à sua volta irá para sempre lembrar do medo de ter seu ente querido incapacitado pela falta de memória. Já o indivíduo afetado provavelmente nunca se recordará de detalhes daquelas poucas horas de sintomas.

A chamada amnésia anterógrada é a incapacidade de formar novas memórias e constitui o principal sintoma da amnésia global transitória. Ela faz com que o indivíduo repita diversas vezes as mesmas perguntas sobre a data, o ambiente que o circunda, o que ele(a) faz ali, como um “disco riscado”. A memória retrógrada, que é a informação adquirida no passado (recente ou distante), pode ser levemente afetada, se estendendo de horas a dias (raramente mais do que 1 dia) anteriores ao evento. Já a memória de procedimento, que guarda informações sobre atos que fazemos automaticamente, sem pensar, como dirigir, andar e escovar os dentes, não sofre nenhum dano.

Outras funções cerebrais, como raciocínio, linguagem, capacidade motora e coordenação, também se mantém funcionando normalmente. E essa é a principal característica que diferencia a amnésia global transitória de um acidente vascular cerebral (AVC) ou acidente isquêmico transitório (AIT), apesar de muitas vezes ser necessária a realização de exames complementares para que estas hipóteses sejam completamente excluídas.

Como o próprio nome diz, esta é uma condição transitória. A duração média é de 6 horas, porém pode durar até 24 horas. Em alguns casos, os paciente os se queixam de dor de cabeça, náusea, tontura e formigamentos durante o episódio. Possíveis gatilhos comumente descritos são esforços físicos (ex: atividade física intensa, atividade sexual), estresse emocional, procedimentos médicos, entre outros. Porém, muitas vezes, nenhum gatilho é identificado.

Apesar de assustadora e preocupante, trata-se de uma condição benigna que, na maior parte das vezes, não se repete no mesmo indivíduo. Existem importantes diagnósticos a serem excluídos pelo neurologista, sendo os principais:

– AVC / AIT

– Epilepsia

– Encefalopatia

– Encefalite

Geralmente o diagnóstico se confirma com a resolução completa dos sintomas e por meio de exames complementares como ressonância magnética, eletroencefalograma e exames laboratoriais.

Ao longo do tempo, diversas teorias tentaram explicar a causa deste evento. O que se tem de certeza até o momento é que a área envolvida nesta condição é o hipocampo, região extremamente importante para formação de novas memórias e sabidamente uma das regiões cerebrais mais vulneráveis a estresse metabólico, principalmente hipóxia (falta de oxigênio) e isquemia (falta de sangue). Contudo, o que ocorre exatamente naquela região, ainda não foi completamente desvendado. Algumas possíveis explicações são: isquemia arterial, congestão venosa e descargas epilépticas.

Confirmando-se o diagnóstico de amnésia global transitória, nenhum tratamento medicamentoso é necessário. A melhora dos sintomas é completa e espontânea. Ao contrário do que poderíamos acreditar intuitivamente, as pessoas acometidas não apresentam maior risco de AVC, epilepsia ou demência em relação às pessoas da mesma idade e, raramente, um novo episódio pode ocorrer.

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