Existe Cura Para a Doença de Alzheimer?

A Doença de Alzheimer é caracterizada por perda cognitiva progressiva envolvendo memória e outras funções cognitivas. O tratamento atual desta condição é baseado em medicações que tentam aliviar os sintomas da doença, porém não interferem em sua progressão. Apesar das frequentes pesquisas e esforços por parte da comunidade científica, nenhuma nova droga foi aprovada para esta condição nos últimos 15 anos. 

Para aumentar as esperanças, uma das medicações recentemente testadas, chamada solanezumab, gerou alguma melhora em testes cognitivos naqueles pacientes que fizeram uso da medicação por 80 semanas em relação aos que usaram placebo. Contudo, essa diferença foi muito pequena e pouco relevante clinicamente. 

Para que seja produzida uma medicação que realmente trate a doença, é necessário que conheçamos detalhadamente a sua causa. Atualmente, os esforços estão direcionados ao combate de uma proteína chamada beta-amilóide, considerada culpada pelo início da doença pela maior parte dos pesquisadores. Esta hipótese (chamada hipótese do beta-amilóide) foi bastante fortalecida após a descoberta de que indivíduos com doença de Alzheimer familiar apresentam alterações genéticas que levam ao aumento da produção de beta-amilóide no cérebro. Já na doença de Alzheimer de início tardio (forma mais comum da doença), a deficiência estaria nos mecanismos de retirada / limpeza desta proteína do sistema nervoso central, que funciona de maneira adequada nos indivíduos sem a doença.

Apesar de ser uma teoria amplamente aceita, as medicações que reduzem a quantidade de de beta-amilóide do cérebro (chamadas de anticorpos monoclonais anti-beta-amilóide) não tem surtido efeito significativo, levantando a questão: seria o beta-amilóide a real causa da doença? Estaríamos mirando o alvo errado? 

Considerando como verdadeira a teoria do beta-amilóide, existem diversos motivos pelos quais as medicações anti-beta-amilóide poderiam não ter demonstrado bons resultados. Uma delas é o fato de que o início do acúmulo desta proteína comprovadamente se dá cerca de 15 a 20 anos antes do início dos sintomas surgirem. Assim, quando selecionamos um indivíduo com sintomas para iniciar o tratamento, é possível que os danos cerebrais não mais sejam reversíveis. Outra dificuldade é o fato de que o acúmulo do beta-amilóide aumenta com o passar da idade, chegando a ocorrer em cerca de 44% das pessoas com 90 anos ou mais, podendo ocorrer mesmo em indivíduos sem sintomas cognitivos.

É importante salientar que somente os estudos mais recentes realizam exames que comprovam o acúmulo de beta-amilóide cerebral (exame do líquor e PET-amilóide), tendo sido demonstrado que cerca de um quarto dos pacientes que participavam das pesquisas de novas medicações não apresentavam acúmulo desta proteína no sistema nervoso central.

Interessantemente, dentre as diversas drogas testadas para o tratamento do Alzheimer, uma delas demonstrou resultados que chamam a atenção, porém de forma negativa. O verubecestat, queinibe a produção de beta-amilóide cerebral, ao contrário da melhora esperada, levou à piora cognitiva e comportamental no grupo que o utilizou, com maior risco de demência em relação ao grupo placebo, fazendo com que o estudo fosse interrompido. 

Ainda existem diversas outras drogas em teste, porém teremos que aguardar alguns anos até observarmos os resultados. De qualquer maneira, os dados que temos até o momento demonstram que, apesar dos crescentes avanços na área, ainda não compreendemos completamente o mecanismo da doença e, consequentemente, seu tratamento. Desta forma, outros alvos terapêuticos estão sendo estudados atualmente, principalmente a proteína Tau, que também está envolvida na cascata de eventos que desencadeia a doença de Alzheimer.

Alguns autores contrários à teoria do beta-amilóide argumentam que o aumento desta proteína seria uma resposta a um dano neuronal prévio, como uma defesa do organismo a algo errado acontecendo. Este “algo errado” ainda é desconhecido, podendo representar estresse oxidativo, alterações do metabolismo cerebral, inflamação crônica, dentre outros. Contudo, ainda são necessários argumentos muito fortes para derrubar a teoria mais aceita nos últimos 25 anos. 

Fonte: Panza, Francesco, et al. “Amyloid‐β immunotherapy for alzheimer disease: Is it now a long shot?.” Annals of neurology85.3 (2019): 303-315.

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