Peculiaridades do TDAH no adulto

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma condição descrita na medicina há muito tempo, porém seu conhecimento se expandiu rapidamente no último século, com maior foco na identificação e tratamento de crianças e adolescentes.

Foi somente nas duas últimas décadas que passou-se a entender o TDAH como uma condição crônica na qual cerca de 90% dos indivíduos acometidos mantém sintomas na vida adulta.

Atualmente, muito se estuda sobre a evolução e características dos sintomas do TDAH nas diferentes etapas da vida, percebendo-se que os sintomas são flutuantes e dependem de vários fatores externos (ambiente, contexto social, educação) e internos (outras doenças, personalidade, estratégias para lidar com dificuldades) do indivíduo.

É possível ser diagnosticado com TDAH somente na vida adulta?
Sim. Por definição, os sintomas do TDAH devem se iniciar antes dos 12 anos de idade, mas frequentemente o diagnóstico se dá somente na adolescência ou vida adulta por uma série de fatores:

1. Sintomas podem não ser valorizados durante a infância, principalmente quando se trata de uma criança sem hiperatividade e com predomínio de sintomas de desatenção;

2. Por desconhecimento dos pais e professores, a criança é tida como “levada”, bagunceira, esquecida, distraída, preguiçosa, ou de gênio difícil, quando na verdade os sintomas se devem ao TDAH, que necessita de tratamento adequado;

3. Indivíduos com TDAH não obrigatoriamente terão dificuldades de aprendizado e mal desempenho escolar, fazendo com que pais e professores entendam aquela criança como “dentro da normalidade”.

4. Na infância, as demandas são relativamente poucas, mas na vida adulta passamos a ser responsáveis pela nossa carreira profissional e acadêmica, relacionamentos sociais, filhos, cuidados da própria casa e finanças. Essa somatória de demandas pode exacerbar dificuldades que na infância eram contornadas com estratégias simples, e então o indivíduo procura por ajuda médica.

Então, percebemos que existe grande chance de um indivíduo com TDAH passar muitos anos da sua vida sem um diagnóstico correto, seja por não-identificação correta ou por não ter apresentado grandes prejuízos. O fato é que quando olhamos para um adulto com TDAH, observamos um quadro bastante distinto da infância. Aqui vão algumas comparações:

A. Ao passo que os sintomas de desatenção na infância podem ser contornáveis com um maior esforço do indivíduo e muitas vezes não são percebidos pelos pais e professores, um adulto que apresente dificuldade em manter o foco em uma única tarefa, se organizar mentalmente, planejar e executar tarefas do início ao fim, guardar informações na memória, priorizar tarefas de maneira correta e organizar seu tempo adequadamente, passa a sofrer muitas consequências. Algumas delas são: maior taxa de desemprego ou menor alcance profissional, menor escolaridade, abandono de universidades e cursos, menor alcance financeiro, baixa auto-estima, problemas com ansiedade e depressão, dentre outros.

B. Os sintomas de hiperatividade e impulsividade na infância são muito facilmente percebidos por um observador externo. A criança tende a ser desafiadora, não respeitar os limites, ter muita energia, correr e mexer em tudo, falar o que vem à cabeça e se levantar o tempo todo quando deveria ficar sentada. Já no adulto, estes sintomas tendem a ser muito mais internalizados, ou seja, raramente vemos um adulto que não consegue se manter sentado em uma reunião, ou que escale tudo que vê pela frente. Mas frequentemente se queixam de inquietude física e mental, dificuldade de relaxar, necessidade de estar sempre “fazendo coisas”, terminar as frases das pessoas e não ter paciência para esperar a sua vez.

Na vida adulta, a impulsividade pode se manifestar de diversas maneiras. Aqui vão alguns exemplos:

– Tomar decisões por impulso, tendendo a priorizar escolhas com recompensas imediatas – por isso a procrastinação é tão comum;

– Tendência a se alimentar de maneira impulsiva, com maior risco de sobrepeso, diabetes, colesterol alto e hipertensão;

– Maior risco de abuso de substâncias ilícitas, álcool e cigarro;

– Dirigir de maneira impulsiva, com maior risco de multas e acidentes;

– Dificuldade na expressão de emoções, com explosões de raiva;

– Falar muito e interromper os outros com frequência.

 

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